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quinta-feira, 19 de julho de 2012

CRÔNICA “O último adeus”

                   “O último adeus”

Já faz bastante tempo, mas aquele 16 de maio de 1994 jamais será esquecido. Ainda me pego tentando resgatar na minha memória, traços, momentos, algo que me faça recordar da minha infância. Tento reconstruir, através de fatos relatados por minha mãe e outros familiares, ocasiões que vivera ao lado de uma figura heróica para qualquer criança, meu pai, sempre ouvira dizerem que tinha uma ótima relação com ele, mas apenas ouço, sem conseguir restaurar uma imagem nos meus sonhos que reforce essa afirmação. São apenas lembranças imaginarias ou que estão guardadas no inconsciente, uma vez que são apenas recordações de momentos vividos quando ainda era uma criança muito pequena.

É um sentimento indescritível, pois, ao mesmo tempo em que sinto um vazio, uma lacuna em meu peito, não consigo definir ao certo do que sinto falta, uma vez que só é possível sentir carência, saudade ou nostalgia daquilo de vivemos, excepcionalmente dos momentos felizes que jazemos, mas com o passar dos tempos vão se perdendo. 

Somente uma cena o tempo não conseguiu apagar, talvez por ser a mais intensa, nem sei se realmente me lembro ou se fantasiei a partir das informações que ouvira ao longo dos anos. O fato é que precisava de algo que legitimasse aquela situação trágica, quiçá tenha sido isso mesmo que aconteceu.

Ainda era uma criança, mas conseguia perceber que algo não ia muito bem. Os ânimos sempre alterados, quase nunca ninguém sorria, era como se a alegria da família estivesse definhando juntamente com a doença. É inaceitável ver que ele chega de mancinho, em silêncio sem dar um menor sinal e de repente faz um estrago tão profundo; é inacreditável, mas o câncer consegue fazer tudo isso e em tão pouco tempo. Foram dias difíceis de muita dor e angústia, nada podia ser feito, pois o destino já estava traçado. Era hora de partir, mas apesar de ser uma certeza, por sinal a única que temos nessa vida, nunca estamos preparados para enfrentar esse desafio que a vida nos impõe. Por mais que a razão saiba que a morte é um momento de transição pelo qual todo ser tem de passar, a subjetividade custa aceitar a distância, a perda e principalmente a saudade. 

Eis que chega o triste dia, a família e amigos ali reunidos numa sala, todos em volta de um corpo inerte que já não exalava mais vida, não podendo corresponder às demonstrações de carinho dos que ali estavam em sua homenagem. A tarde estava sombria, as nuvens encobria o brilho do sol deixando assim uma tarde cinzenta. Passarinhos no céu começaram a cantar como se soubessem o que acontecia e por meio de sua música estavam ali para nos acalmar.

Parece até sadismo o fato de pessoas ficarem inúmeras horas a olhar um corpo preso por tábuas de madeira e imaginar que dali nunca mais sairá. No entanto são os últimos momentos para estar como a pessoa amada. Hoje fico a pensar o que estaria passando na cabeça de uma criança tão pequena e inocente vivenciando essa situação. Estaria ela consciente de que jamais iria vê-lo, estaria em seus braços ou mesmo tocá-lo? É impossível descrever um sentimento de tamanha profundidade, mas a reação foi de alguém consciente que não sabia ao certo o porquê, porém foi capaz de expressar nitidamente seu desespero em ter que dar o último adeus.
(Maria Paixão da Cruz)

4 comentários:

  1. Lindo Maria, é muito emocionante, tem muito sentimento, coração, amei!bbjs

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  2. Realmente, quando escrevo procuro colocar todo sentimento e verdade que existe dentro de mim, afinal a literaturta não seria arte se não houvesse sentimento verdadeiro por parte do escritor.

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  3. Essa crônica fiz em homenagem ao meu pai. Infelizmente não tive o prazer em conviver com ele por muito tempo, quando este faleceu ainda era muito pequena e na tentativa de reconstruir algo de concreto resolvi escrever essa crônica a partir de relatos que ouvira ao longo todos tempos.

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